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10 hábitos que mudam sua vida para melhor

POR DANIELA TALAMONI

Especialistas e recentes pesquisas na área revelam: é possível e muito simples prolongar a saúde e o bem-estar.

Quando os jornais anunciaram a morte da japonesa Kamato Hongo, que até os 116 anos mantinha- se lúcida e saudável, uma dúvida antiga da humanidade veio à tona: qual o segredo para uma vida longa e com qualidade? Os filhos e netos da vovó centenária tentaram explicar: a mulher mais velha do mundo não fumava, mantinha uma alimentação à base de peixes, era bem-humorada e adorava dormir. A receita simples desapontou quem esperava a revelação de um grande segredo oriental que garantisse a juventude eterna. Por outro lado, serviu como mais uma prova de que o jeito de ser das pessoas e a maneira como vivem podem interferir em seu estado de saúde.

A lição vale especialmente para os dias de hoje. A correria, os compromissos, as preocupações e as cobranças tomam conta do cotidiano e fazem com que os velhos conselhos 'faça exercícios', 'coma direito', 'dê um tempo no trabalho' e 'seja otimista' não sejam levados tão a sério. Resultado: muita gente só deixa de fumar quando descobre um câncer no pulmão ou resolve tirar férias depois de sucumbir a uma crise nervosa.

E desde que a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 1948, definiu saúde como 'o estado de completo bem-estar físico, mental e social', não param de surgir pesquisas para comprovar a influência de algumas posturas no aparecimento ou na prevenção de doenças.

É hora de rever conceitos
A riqueza de estudos e evidências é tão grande que tem profissional prescrevendo 'atitudes essenciais' para quem deseja viver mais e melhor. Foi o que fez o médico americano Walter Larimore, no livro Os 10 hábitos das pessoas altamente saudáveis (Ed. Vida), lançado há poucas semanas. Apoiado em históricos de pacientes e nas informações de mais de mil especialistas, ele defende a importância da qualidade de vida. "Hoje percebo que as funções orgânicas em ordem não são as únicas coisas que importam. Não significam nem mesmo o fator preponderante para sentir-se bem", diz.

Confira a seguir hábitos simples que, incorporados à rotina, podem ajudar você a chegar forte e saudável aos 100 anos - ou pelo menos bem próximo disso...

1 OBEDEÇA A SUA SEDE: NINGUÉM VIVE SEM ÁGUA
O ser humano é capaz de agüentar até 40 dias sem comer, mas se deixar de ingerir líquidos pode morrer em menos de uma semana, garante o fisiologista Renato Lotufo (SP). A água corresponde a 70% do nosso peso corporal e conduz as reações bioquímicas no organismo. "Ela é responsável por transportar os nutrientes e eliminar as toxinas. Também regula a temperatura interna do corpo, ajudando a mantê-la estável", explica. Porém, o estoque é limitado - todos os dias, eliminamos cerca de dois litros e meio do líquido vital pelo suor, pela urina, pelas fezes e pela respiração (em forma de vapor). Por isso, é tão importante a reposição. Como? A antiga recomendação de oito copos de água por dia está ultrapassada. Isso porque a necessidade de matar a sede costuma variar conforme sexo, peso, idade, atividade física e até a temperatura ambiente. Além disso, frutas, sucos, leite e outros alimentos suculentos também colaboram no abastecimento do 'reservatório'. Para conferir se a ingestão tem sido suficiente, a dica é reparar na urina: ela deve estar quase transparente e ter um volume considerável. Caso contrário, há o risco de desidratação, que causa desde náuseas e cãibras até, em casos graves, distúrbios no coração.

2 ESCOLHA BEM SEUS ALIMENTOS
Em meio ao império fast food e à enxurrada de dietas da moda, cresce a preocupação com a reeducação alimentar e a retomada dos bons e velhos costumes à mesa. Isso explica, por exemplo, o sucesso dos alimentos orgânicos, cultivados à moda antiga, sem o uso de adubos químicos e defensivos agrícolas. Há ainda um movimento mundial - que teve início em 1989 na Itália e já chegou ao Brasil - contrário ao universo dos pratos industrializados e que propõe a volta das tradições culinárias. Com o nome de Slow Food - ao pé da letra, comida em ritmo lento -, defende as verduras e os legumes colhidos na hora, a carne proveniente de animais alimentados apenas por grãos, o preparo cuidadoso do cardápio e a refeição sem pressa e compartilhada com a família. "A idéia é muito saudável. Assim, as pessoas passam a saborear e digerir melhor o que ingerem e, portanto, as chances de exagerar são menores. As crianças também são estimuladas a escolher opções mais saudáveis só de observar os pais à mesa", ressalta a nutricionista Josefina Bressan, da Universidade Federal de Viçosa (MG). Pitadas de bom senso ainda afastam diversas doenças. "Uma refeição colorida, repleta de folhas e legumes e com o mínimo de gordura, previne obesidade, diabetes e até câncer gástrico", acrescenta.

3 MANTENHA O BOM HUMOR SEMPRE
Quem vive resmungando tem mais chances de ficar doente. É só lembrar do 'sofrimento' daquela hiena de um antigo desenho animado que vivia lamentando: 'Oh, dia! Oh, azar!' Se fosse real, ela seria um alvo fácil de enxaqueca, gastrite e hipertensão. A culpa, segundo especialistas, é do cortisol, o hormônio liberado em situações de estresse e presente em abundância no organismo do mal-humorado. Para comprovar a influência da rabugice no estado de saúde, um estudo da Faculdade de Medicina de Harvard (EUA) avaliou durante oito anos a capacidade pulmonar de 670 homens, divididos de acordo com suas visões de mundo. Resultado: os pessimistas apresentaram mais obstruções nos pulmões do que os otimistas, mesmo quando comparados a voluntários fumantes. O humor faz ainda a vida parecer melhor. Sobre isso, a escritora gaúcha Lya Luft - autora do best seller Perdas & Ganhos - resumiu em um artigo: "Um riso bom ou um sorriso terno em meio a toda a crueldade, falsidade, hipocrisia, violência de acusações abjetas, de calúnias vis, de corrupção escandalosa, de desagregação familiar melancólica, de mentira secreta e venenosa podem nos confortar e devolver a esperança".

4 SEJA VAIDOSO NA MEDIDA CERTA
Preocupar-se com a aparência não tem a ver com futilidade. Todo mundo deve procurar gostar de si próprio, com suas qualidades e seus defeitos. Mas não há nada de errado em dar uma força ao que você já possui. Cuidados equilibrados com o corpo e a beleza só fazem bem. Daí a importância dos exercícios para manter a forma, dos tratamentos para pele e cabelo e até da correção de imperfeições que incomodam - por quê não? Só não exagere na autocrítica. Segundo o médico Walter Larimore (EUA), as pessoas podem melhorar o bem-estar geral se não forem tão severas com a própria imagem. Por outro lado, quem anda com baixa estima tem maior chance de desenvolver problemas cardiovasculares. A conclusão é do Centro Internacional para Saúde, de Londres, na Inglaterra, que relacionou o complexo de inferioridade com a falta de vontade de fazer exercícios e de melhorar a alimentação.

5 PRATIQUE SEXO SEGURO E SAUDÁVEL
Feita de forma equilibrada e também com proteção - essencial nos dias de hoje -, essa atividade não tem contra-indicação e funciona como um santo remédio para vários problemas. "Deixa as pessoas bem-humoradas e com mais disposição, diminui a incidência de doenças cardiovasculares, fortalece o sistema de defesa, estimula a memória, enfim, é capaz de retardar o processo de envelhecimento em até 10 anos", garante a ginecologista e terapeuta sexual Glene Rodrigues (SP), do Ambulatório de Sexualidade do Hospital Pérola Byington. O segredo do sexo, além do que já se sabe, é a revolução que provoca no organismo. Da excitação durante as preliminares até o orgasmo, algumas reações são capazes de deixar qualquer um novinho em folha. Tudo começa com o desejo, que libera a adrenalina no sangue. Com isso, a pressão arterial aumenta, o coração dispara, a respiração acelera, os pêlos eriçam, a pele enrubesce e a região genital dilata. Ao mesmo tempo, a endorfina, responsável pela sensação de prazer e satisfação, é liberada. No clímax, as células do cérebro descarregam seu conteúdo elétrico e promovem um relaxamento físico total. Resultado: você se renova e, como prega o dito popular, fica com uma 'pele de pêssego'...

6 FORTALEÇA OS LAÇOS AFETIVOS
Quem já não se sentiu melhor e mais leve depois de desabafar os problemas com um amigo? Saiba que, mais do que um bem-estar momentâneo, preservar as velhas amizades, cultivar novos relacionamentos e até adotar um mascote levam ao equilíbrio psíquico. De quebra, é uma forma de afastar as doenças. A solidão é uma das principais causas de morte nos Estados Unidos. Um estudo com quase 12 mil japoneses comparou um grupo de homens que morava no Japão, junto a seus familiares, com outro, cujos integrantes viviam na Califórnia (EUA) e não possuíam contato nem ao menos com a comunidade. Ao final do trabalho, o conjunto com menor apoio social apresentou um aumento de três a cinco vezes no risco de doenças cardíacas. No caso das mulheres, aquelas que podem contar com as amigas são, comprovadamente, menos estressadas. Pesquisa da Universidade da Califórnia sugere que a convivência e os laços de amizade estimulam a produção do hormônio oxitocina pelo cérebro, o que provoca um efeito calmante e uma redução da ansiedade e do estresse. E viver sem esses 'venenos' é tudo o que se quer.

10 CULTIVE A FÉ E O OTIMISMO
Se você não adota nenhum dos hábitos saudáveis já mencionados, ainda lhe resta um poderoso. De acordo com o psiquiatra Alexandre Moreira de Almeida (SP), coordenador do Núcleo de Estudos de Problemas Espirituais e Religiosos, do Hospital das Clínicas, quem acredita em alguma força superior tem mais esperança e vive melhor. Para comprovar o que diz, ele cita alguns números. Um estudo realizado nos Estados Unidos com idosos demonstrou um risco até quatro vezes maior de suicídio entre aqueles que não participavam de nenhuma atividade religiosa. Outra pesquisa, publicada no Jornal Americano de Psiquiatria, demonstrou que a recuperação da depressão é 70% mais rápida quando o indivíduo tem alguma religião. Também há evidências da redução da ansiedade e do estresse entre os que crêem. O bem-estar que a fé proporciona, no entanto, não se trata de nenhum milagre. "As pessoas se sentem mais amparadas e protegidas, mesmo quando estão sozinhas. A religião ainda favorece o otimismo e a esperança, enfatizando sempre o lado positivo. Por último, há uma tendência menor entre os religiosos a comportamentos de risco, como envolvimento com drogas e sexo sem proteção", explica Alexandre.